Haddad garante que licitação de ônibus inicia na semana que vem
Lucro das empresas, frota e linhas vão ser alteradas
ADAMO BAZANI – CBN
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, garantiu em visita à Casa
do Saber, ontem, na zona Sul de São Paulo, que até próxima semana
finalmente será publicado o edital de licitação do sistema de transporte
público municipal por ônibus na Capital Paulista.
É o maior sistema de ônibus do mundo, hoje com 15 mil veículos, que
transportam diariamente 9 milhões de pessoas, contanto com as
integrações com o Metrô e com a CPTM.
Segundo a RBA – Rede Brasil Atual, Haddad voltou a garantir no evento
que o lucro dos empresários de ônibus será reduzido com o certame, mas
dentro do que é necessário pelo mercado.
“A licitação é de 20 anos é nós queremos uma taxa interna de retorno
para os editais, garantindo que o lucro do empresário fique dentro (de
limites aceitáveis)”, afirmou.
De acordo com auditoria externa contratada pela prefeitura de São
Paulo, feita pela empresa Ernest & Young, ao custo de R$ 400 milhões
após licitação, a TIR – Taxa Interna de Retorno das empresas de ônibus é
de 18,6%, muito próxima do que a licitação de 2003 estipulou, que era
de 18%. Na ocasião, durante a apresentação da auditoria, o secretário
municipal de transportes, Jilmar Tatto, comentou que a TIR deve ficar em
torno de 7%, índice aplicado na maioria das concessões atuais do País.
Relembre:
https://blogpontodeonibus.wordpress.com/2014/12/11/auditoria-ernest-young-reducao-do-lucro-das-empresas-fim-do-modelo-de-cooperativas-e-viacoes-estrangeiras-em-sao-paulo/
Tatto era secretário de transportes na licitação de 2003, gestão de Marta Suplicy.
Haddad espera atrair novos competidores para o segmento de transportes públicos na cidade.
Para isso, voltou a enfatizar que a desapropriação dos terrenos das
garagens, hoje das empresas de ônibus, vai estimular o interesse de
outros grupos pelo contrato de cerca de R$ 120 bilhões por 20 anos.
“Nós baixamos decretos de utilidade pública de todas as garagens da
cidade … Quem ganhar vai poder pedir para desapropriar a garagem para
ele entrar.” – disse Haddad.
Ou seja, se os atuais operadores ganharem podem não pedir a desapropriação.
Vale ressaltar que hoje as garagens não foram desapropriadas e sim
colocadas como áreas de utilidade pública para fins de desapropriação.
MERCADO APOSTA EM POUCAS ALTERAÇÕES:
Mesmo com discurso do prefeito e do secretário municipal de
transportes, o mercado aposta em poucas alterações na estrutura
empresarial na cidade de São Paulo.
O modelo de cooperativas não vai mais existir. No entanto, estas
cooperativas do subsistema local se transformaram em empresas para a
licitação. Em alguns casos, ex-cooperados reclamam que diretores teriam
feito a transformação sem total anuência dos donos de ônibus e
micro-ônibus.
Já as empresas do subsistema estrutural, as linhas com ônibus
maiores, são comandadas por poucos grupos, como de José Ruas Vaz, que
detém 54,3% deste subsistema de forma única ou como sócio, com empresas
como Viação Campo Belo, ViaSul, Viação Cidade Dutra, Vip, Ambiental
Transportes, entre outras, de Belarmino de Ascenção Marta, da Sambaíba
Transportes Urbanos e família Gatti, da Viação Santa Brígida.
O mercado acredita ser muito difícil desbancar estes grupos empresariais.
Além disso, na semana passada, durante a apresentação de ônibus
superarticulados de 23 metros com ar-condicionado e wi-fi para
corredores, a SPTrans – São Paulo Transporte informou que a partir de
julho serão colocados cem veículos por mês deste tipo de veículo,
chegando a meta de 2,5 mil ônibus até 2017.
Cada ônibus, nesta
configuração, custa em torno de R$ 800 mil. Seria um investimento muito
grande sem a certeza de retorno.
Em vez de oito consórcios e 11 cooperativas, como era o modelo
resultante da licitação de 2003, agora a cidade deve ter SPE – Sociedade
de Propósito Específico, uma entidade jurídica que responderá à
prefeitura e vai congregar diversas empresas participantes.
Oficialmente, a prefeitura não adiantou o total de SPEs, mas o
mercado aposta em três ou quatro, sendo uma delas reunindo ex
cooperativas.
REORGANIZAÇÃO DAS LINHAS E FROTA:
Outra aposta de empresários, especialistas, técnicos e fornecedores ouvidos pelo Blog Ponto de Ônibus
sob a condição de preservação de fonte, é de que a frota de veículos,
hoje em torno de 15 mil ônibus e micro-ônibus, deve ser reduzida
gradativamente na medida que avançarem as reorganizações das linhas. Uma
das estimativas é de que o número de ônibus caia em três anos para 11
mil veículos.
VEÍCULOS LIMPOS:
Teoricamente, o edital vai exigir a colocação de uma frota limpa. Mas
o mercado aposta que, apesar de haver perspectiva do aumento de ônibus
menos poluentes, como os elétricos híbridos, e não poluentes, como os
totalmente elétricos, esta não será a principal preocupação do poder
público. A rede de trólebus não deve ser ampliada.
A lei de mudanças climáticas que prevê 100 por cento de ônibus ambientalmente amigáveis até 2018, não deve ser cumprida. Ao Blog Ponto de Ônibus e à Rádio CBN,
o secretário municipal de transportes, Jilmar Tatto, admitiu em 16 de
abril que a lei não deve ser cumprida. Tatto, no entanto, diz que os
empresários que colocarem ônibus com tecnologia alternativa ao diesel
terão uma remuneração maior:
https://blogpontodeonibus.wordpress.com/2015/04/16/entrevista-prefeitura-admite-que-nao-vai-cumprir-lei-de-frota-limpa-ate-2018/
A licitação deve ser complexa. É inconsequente acusar o processo que
ainda vai ser iniciado de “jogo de cartas marcadas” ou que será feito só
para agradar aos empresários. Mas, o mercado não aposta em alterações
profundas.
Matéria de Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes
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